Ciclovias em Brasília
Em qualquer lugar do mundo, são poucas as situações em que "o governo" age para criar um fato. Normalmente ele só reage perante o fato, nem sempre da forma ou pelos motivos adequados.
Sou um daqueles que utilizam o bicicletário do trabalho e é com uma certa esperança que vejo um número crescente de bicicletas lá estacionadas diariamente. Ontem havia 14 bicicletas, o maior número de magrelas que eu já contei. Procuro utilizar a bicicleta em todas as ocasiões possíveis. Acredito que o simples fato das bicicletas estarem nas ruas serve de incentivo para mais bicicletas estarem as ruas.
Acho que a melhor coisa que se podia reivindicar junto ao "governo", é que ele simplesmente cumprisse o que já existe, tanto no sentido de tornar mais desconfortável a vida dos motoristas e forçá-los a optar por uma outra alternativa, quanto no sentido de proteger aqueles que já o fizeram. Às vezes temos a impressão que precisamos criar coisas novas para resolvermos problemas quando a solução já está logo ali, basta esticar a mão.
Tenho receio da sub utilização das ciclovias e que isto sirva de pretexto para brecar futuras ações em prol das bicicletas. Preferiria que se investisse em campanhas conscientizando onde as bicicletas devem transitar. Parece incrível mas conheço muitos motoristas que desconhecem que as bicicletas podem - e devem - compartilhar as ruas. Lembro-me de um diálogo labial que travei com uma motorista que quase me atropelou ao entrar em uma quadra e parou o carro para me "olhar feio":
- Mas a culpa é minha?
- Não, é minha - ela ironizou.
Para ela bicicletas devem andar nas calçadas e eu não a culpo. Alguém já leu o Código Brasileiro de Trânsito de cabo a rabo? Não? Nem eu.
Preferiria que os PMs multassem quem para em fila dupla ao invés de ficar olhando para esse tipo de infração laconicamente, como se natural o fosse. Já presenciei uma viatura da PM ficar travada em fila dupla em uma comercial e o policial fez o que qualquer brasiliense faz: tocou a buzina - bem, no caso a sirene - e esperou que ele viesse com a desculpa padrão de "eu fui só ali rapidinho na farmácia". Se parar em lugar proibido custasse caro, creio que a maior parte dos motoristas ou procurariam uma vaga com mais persistência ou, caso o número de vagas fosse - como é - insuficiente para suprir a demanda, ficariam tão emputecidos que acabariam optando por usar uma bicicleta, um ônibus, o metrô, um táxi ou quem sabe, até dar uma caminhada.
Enfim, acho que seriam medidas mais eficazes e mais baratas, mas como eu disse anteriormente, o poder público nem sempre - quase nunca - age da forma ou pelo motivo adequado. Acho que a maior contribuição que posso dar para legitimar a presença das bicicletas nas ruas é simplesmente colocar a minha na rua e incentivar o meu filho a enxergar a bicicleta como tudo que ela é: um brinquedo, uma forma de fazer exercício, um meio de transporte... Se mais pessoas fizerem o mesmo, ver uma bicicleta compartilhando a rua será tão natural que os ciclistas nem mais se cumprimentarão ao se cruzarem, haja visto que deixarão de se identificar como uma tribo.
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