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Crônicas de bicicletas - Prince R1 Speed 18v

Uma fantástica Prince R1 Speed 18v, minha primeira bicicleta da fase adulta. O modelo que eu tinha era vermelho/branco e não azul/branco como o da foto.
Sabe aquela máxima que diz que a gente nunca esquece de andar de bicicleta? Não me recordo de ter montado numa bicicleta por, sei lá, uns 15 anos, desde que entrara na faculdade. Mas foi só sentar no selim para os circuitos se reativarem automaticamente e eu já estava andando até sem as mãos.

- Olha mãe, sem uma mão.
- Olha mãe, sem a outra mão.
- Olha mãe, sem as duas mãos.
- Olha mãe... sem os dentes.

A vida sem carro em Brasília é possível para a burguesia-classe-média brasiliense, na qual estou inserido, mas exige condições especiais e uma boa dose de adaptação. Também exige uma boa motivação que sirva de estopim para tamanha mudança de paradigma. Em Brasília, os habitantes são divididos em cabeça, tronco e rodas. A motivação é a mais fácil de ser obtida. Basta sair de Águas Claras e dirigir pela EPTG, às 7 h da manhã, em direção ao Plano Piloto. Se ainda não lhe parecer uma situação suficientemente motivadora, tente imaginá-la há 10 anos atrás, quando a EPTG ainda não havia sido duplicada. Se ainda assim não estiver convencido, não posso fazer nada. Fique aí, ocupado no seu engarrafamento que eu tenho que continuar a história.

A questão da motivação estava resolvida. De carro, definitivamente não dava. Por outro lado, a condição especial também já existia. Eu morava perto de uma estação de metrô e trabalhava perto de outra estação de metrô. Em verdade, vos digo que não era tão, tão perto assim. Há uma certa dose de exagero. Quem conta um conto aumenta um ponto. Eu morava a 10 minutos da Estação Águas Claras e trabalhava a 15 minutos da Estação Galeria. 25 minutos mais 25 minutos dentro do trem, dava uns 50 minutos para ir, 50 minutos para voltar. Não era exatamente um negócio da China, mas trocando em miúdos, a alternativa ainda era vantajosa. Ao menos as viagens tinham duração previsível e ainda dava para economizar o da gasolina.

Minha (então) sogra tinha dado uma bicicleta à minha (então) esposa. Uma fantástica Prince R1 Speed 18v, parcelada em 12 vezes sem juros nas Lojas Americanas. Para ambos, era uma época de mudanças e, para ambos, uma das mudanças que se fazia necessária podia ser resumida em uma palavra: "exercício". Minha (então) esposa, pegava a bicicleta e ficava dando voltas na área comum do condomínio para onde tínhamos nos mudado, no início de nossa aventura em Brasília.

Não adianta. Nenhuma bicicleta ergométrica escapa de seu inevitável destino: virar cabide. Por maior que seja a empolgação para queimar calorias na hora da compra, no fim das contas o seu uso mais nobre será o de pendurar as roupas que ainda não estão sujas o suficiente para fazerem sua jornada em direção à máquina de lavar mas que a preguiça nos impede de dobrá-las e guardá-las no armário. Foi mais ou menos o que aconteceu com nossa Prince R1 Speed 18v. Queimar calorias dando voltas no play não parece muito divertido e ela acabou encostada num cantinho da garagem, à espera do triste e inevitável destino reservado a toda bicicleta de supermercado: pneus murchos, quadro empoeirado e o esquecimento num bicicletário. Como consolo, resta-lhe a companhia das outras bicicletas de supermercado na mesma situação.

Caminhar diariamente pelas ruas empoeiradas de uma cidade que está sendo erguida do nada pode ser uma experiência desagradável. A prioridade dada aos pedestres, quando existe alguma, está próxima de não existir. Não é a toa que as calçadas são os últimos elementos da infraestrutura de mobilidade urbana a serem considerados,  apesar de - ou por conta de - também serem os mais baratos. Isso quando chegam a ser considerados. Como anunciava o título de um de meus finados blogs, "Brasília não tem calçadas". Enquanto isso, poeira nos dias de sol, lama nos dias de chuva.

A bicicleta estava disponível. Caminhar até o metrô era uma bosta. Por que não usar a bicicleta para ir até o metrô? Foi a primeira experiência em anos com uma bicicleta. E, ainda por cima, ela não era um instrumento de lazer, um mero brinquedo. Era um meio de transporte. Um elemento de mobilidade urbana. Show!

Sabe aquela máxima que tudo o que é bom dura pouco? No dia que eu resolvi me gabar da minha mais nova descoberta, ela se tornou um número. Tinha um colega de banco, recém empossado como eu, que saltava na mesma estação e voltava para casa no mesmo horário que o meu.

- Cara! Descobri a pólvora! Tô indo de bicicleta para o metrô. Bom demais! Rapidinho eu chego na estação! Você tem que fazer o mesmo! Dá uma olhada nela ali... Ei! Cadê a minha bicicleta? Roubaram minha bicicleta!

Coitado dele. Era um pé frio. Dias mais tarde, meu celular não parava de apitar com mensagens de SMS.

- Tá louca, mulher? Que história é essa de ir para Santiago e ficar sacando dinheiro da minha.. nossa conta? Como? Você está em casa? Tá bom... Pode deixar... eu levo o pão...

Quem está aguardando pelo gerente para reclamar de saques de sua conta corrente, feitos em Santiago, no Chile? O pé frio. Chegamos à conclusão que chupa-cabras estava no caixa eletrônico do supermercado perto de casa, o único lugar em comum que nossas esposas - sempre elas - tinham usado o cartão do banco. Na delegacia, o agente não quis nem registrar a informação na ocorrência

- O banco vai bancar o prejuízo? Então não tem problema.

Como não tem problema? E o transtorno? Não vão nem investigar? Deixa para lá. Delegacias de polícia e agências da receita não são os melhores lugares para expormos nossos pontos de vista.

Voltando à bicicleta, segundo me explicou o vigilante, o horário de funcionamento do metrô tinha sido ampliado. O quadro de funcionários não. Típico. Como era de se esperar, a solução encontrada foi deixar a estação desguarnecida nos horários de menor movimento. A bicicleta? Virou uma ocorrência policial. Um número. Durou tão pouco que ainda havia prestações a pagar. Mas minha (então) sogra nem se importou. Segundo ela, foi até bom. Melhor uma bicicleta roubada do que um genro atropelado. A percepção de que bicicleta na rua é um risco sempre existiu. Parece que enquanto houver carros, sempre existirá.

Obviamente a Prince Speed R1 18v não estava cadastrada no Bike Registrada. Por isso, se você tiver notícias que permitam chegar ao seu paradeiro, entre em contato e ajude a Polícia Civil do DF a resolver mais esta ocorrência e melhorar suas estatísticas.

Um comentário:

  1. Tive uma dessa vermelha e branco em 2005. Lembro que custou 189 hehe

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