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As pedaladas da Dilma


Goste-se ou não da presidenta, não dá para negar que suas pedaladas de manhã, ainda que cercadas de seguranças, como não poderia deixar de ser em razão do seu cargo, e por mais que mencionar as pedaladas da Dilma pareça uma piada pronta, são bem simpáticas. Também não dá negar que estão funcionando - a presidente está em melhor forma do que nunca. A gente fica só se questionando qual delas têm dado mais resultado. As da bicicleta, gastando calorias, ou as fiscais, tirando seu apetite e, ao que tudo indica, vai acabar levando sua faixa presidencial a reboque.

Apesar do distanciamento que Brasília impõe naturalmente às pessoas, é possível encontrar com nomes da política por aqui e ali, da mesma forma como não é incomum encontrar um artista global pelas praias da Zona Sul do Rio de Janeiro. Já encontrei com o Tarso Genro, quando ele era o Ministro da Justiça e ainda era permitido a um petista frequentar locais públicos com o orgulho intacto, caminhando com um séquito de seguranças no Parque da Cidade. A rotina de exercícios da presidente tem proporcionado esses encontros de forma ainda mais frequente. Perdi a conta de quantas vezes já a encontramos nesta situação, quando ela deixa de ser a presidente acuada para se tornar apenas uma mulher preocupada com a saúde. Uma mulher como outra qualquer.

Na quarta e na sexta, treinamos nas proximidades do Palácio da Alvorada. No primeiro dia, tínhamos programado um CRI no percurso que a Evolua sempre utiliza para este tipo de treino, passando em frente ao Palácio da Alvorada, subindo a Via Presidencial, contornando a Vila Planalto pela L4 Sul e voltando pela Concha Acústica. Segundo a página do segmento no Strava dá um pouco mais de 7,5 km.


Os principais prédios públicos de Brasília - Congresso, Supremo, Palácio do Planalto, Itamaraty - são bem vulneráveis. Estão à beira das vias, sem qualquer tipo de obstáculo físico que os separe de uma turba enfurecida. Quando uma situação como esta se concretiza, há que se colocar a Tropa de Choque da PM, formando um cordão de isolamento que dura enquanto os policiais conseguem ignorar resignadamente os objetos que lhes são atirados. Como tudo tem seu limite, chega a hora que a paciência da tropa se esgota e ela sai distribuindo bordoada a torto e a direito, como um pit bull raivoso que consegue se livrar da corrente que o contém. Com o Palácio da Alvorada, acontece o mesmo, com uma pequena diferença: como a via que passa em frente à residência oficial da Presidência tem o único propósito de dar-lhe acesso, basta fechá-la para isolá-lo. Era o que estava sendo posto em prática até quarta-feira.

Neste dia, Dayana e Guilherme foram direto para lá, ao invés de encontrarem com a equipe no Deck Brasil, como é habitual. Enquanto não chegávamos, ficaram girando e acabaram encontrando com Dilma dando suas pedaladas não fiscais. Já que perguntar não ofende, perguntaram se a via não podia ser liberada para as bicicletas e não é que ela deu ordens aos seguranças para deixarem que nós, ciclistas, passássemos e, assim, pudemos completar nosso CRI tranquilamente?

Talvez seja mera coincidência mas na sexta as barreiras de segurança tinham sido removidas por completo. Por falar em coincidência, novamente a Dilma esta dando suas pedaladas não fiscais na via da Concha Acústica ao mesmo tempo que nós estávamos treinando. A planilha previa tiros de 1'00" no Z5/Z6 e como o Torneio Capital de Ciclismo está aí, Tio Éder quis aproveitar a oportunidade para treinarmos curvas fechadas, como as que teremos pela frente. Delimitou, então, um circuito com rotatórias em ambas as extremidades. Numa delas, João Vítor quase desfalcou a equipe da Evolua por completo. Estávamos fazendo a rotatória em frente ao Royal Tulip - antigo Blue Tree - quando ele gritou a ordem para começarmos o novo tiro:

- Depois da rotatória, ATACA COM TUDO!!!

Gritar para atacar, no instante em que a presidente passava acompanhada de seu aparato de segurança, na situação atual do país, tinha toda a chance de ser mal interpretado. Há quem diga que eles chegaram a levar a mão à cintura. Já que sobrevivi para narrar a história, a única consequência do incidente foi revelar que o reflexo da guarda pessoal da presidenta está apurado.

No sábado, saímos do Deck Brasil para um giro no Park Way. Se a Vila Planalto está se consolidando como um dos melhores locais de Brasília para a prática de treinos de técnica - na quarta-feira contei duas outras assessorias além da nossa - as quadras do Park Way à esquerda da EPIA, na direção do Catetinho, são como um parque de diversões para ciclistas nos fins de semana. Durante a semana, o trânsito de moradores das quadras atrapalha um pouco, principalmente durante o período das aulas. O acesso à região se dá quase que exclusivamente através de automóveis. Só há uma linha de ônibus que leva ao interior das quadras e, ainda assim, bem limitada: funciona apenas de segunda à sexta em 3 horários, um pela manhã e dois à tarde. É só chegar o sábado e o domingo para que o asfalto novo fique praticamente deserto, fazendo a alegria dos ciclistas.

Na concentração de sábado, uma galera estava no Fran's Café, tomando cerveja e ouvindo Wesley Safadão no último furo. O poder público gasta uma nota preta do dinheiro do contribuinte em campanhas educativas. "Se beber não dirija". Os rótulos das bebidas alcoólicas trazem a mensagem "Evite o Consumo Excessivo de Álcool". Aí vem o "cantor" e manda tudo por água, digo, bebida abaixo:
Se não tem amor e carinho
Desce cerveja e vinho
Desce, desce, desce
Um amarelinho

Desce, desce, desce
Champanhe no baldinho
Que amor tá ruim de encontrar

Desce, desce, desce
Champanhe no baldinho
vamos beber pra não chorar
Não tá na hora de enquadrar a execução pública deste tipo de "música" nas mesmas normas aplicadas à publicidade de bebidas alcoólicas, a bem da saúde pública?

Logo no início do pedal, um dos carros que estava no Deck passou por nós. A menina no banco do carona botou o corpo para fora para mexer conosco. Imagina o quanto o Detran deixou de arrecadar pela ausência de um bafômetro nas redondezas. Mais à frente, um carro andava bem devagar pela pista da direita do Lago Sul. Pensamos que era mais um grupo finalizando a night e, por isso, o ultrapassamos com bastante cuidado, perguntando se estava tudo bem.

Logo alguém teve um insight:

- É a Dilma!

Era a Dilma. O carro estava fazendo a segurança do longão de fim de semana da presidenta. Terceiro encontro em três dias. Eu a entendo. Somente muito pedal para dar um tempo no seu inferno astral.

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