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Fila Night Run 2016 - Etapa 1


Eu nem me lembrava qual a última vez que tinha participado de uma corrida de verdade. Tive que apelar para meu histórico no Strava, que revelou ter sido a Corrida Oba, num distante setembro de 2014. Tão longínquo que não tenho nem uma vaga lembrança dela. Mas tem o informativo no e-mail da Equipe, meu nome aparece nos resultados e, o mais importante, está no Strava. Se está no Strava, então existiu.

Lesionado por cerca de 10 meses, com uma Síndrome da Banda Iliotibial, fiquei afastado das corridas desde então. Apesar de ter corrido a São Silvestre no ano passado, temos que convir que ela está muito mais para uma festa do que uma corrida em si, haja visto que o ritmo dos participantes não é uma função individual de cada um, mas determinado pelo fluxo de participantes ao seu redor.

Depois de tantos meses dedicados aos treinos, comecei a ganhar confiança para participar de uma corrida à vera e, assim, avaliar meu condicionamento físico. Apesar da planilha declarar o fim de semana livre, muita gente da equipe estava inscrita na Wings for Life, cuja edição brasileira, a exemplo do ano passado, foi realizada aqui em Brasília. Wandréa queria que os meninos estivessem lhe vendo chegar da corrida. Afinal de contas, era dia das mães. Para poder participar de uma corrida ainda neste fim de semana, apelei para o Eleomar, que sempre consegue inscrições de última horas a preços de primeira, e pedi que me inscrevesse na Fila Night Run.

A Fila Night Run é uma corrida com cara de balada. Assim como as demais corridas da O2, tem algumas características peculiares que a deixam sob medida para o seu público alvo - os assinantes da revista. Por um lado a organização é impecável: os horários de largada são cumpridos de forma britânica. Os percursos são aferidos de forma a ter a distância exata. Se alguém se inscrever numa corrida de 10km vai correr 10km. Nem um metro a mais, nem um metro a menos. A hidratação é distribuída de forma regular ao longo do percurso e a água está sempre gelada. A camiseta que vem no kit, tanto em termos de design quanto em qualidade, é top. O mesmo se aplica à medalha, que nestes quase 10 anos de experiência em corridas, não me lembro de alguma vez ter visto uma tão bonita quanto à que recebi no sábado. A largada é feita por pelotões, de acordo com o tempo previsto por cada participante, sendo a presença lá na frente, no Pelotão Quênia, garantida por critérios técnicos. Por outro lado, não há premiação em dinheiro, o que afasta os corredores profissionais. Não há premiação por faixa etária, o que afasta os amadores competitivos. E tem o preço, também. As inscrições são caras, o que afasta os corredores regulares.

Por tudo isto, o nível técnico da prova não é lá muito alto. A constatação é fácil ao analisarmos o tempo necessário para garantir presença no Pelotão Quênia, um pace de 4'50"/km numa prova anterior da O2, obtido tanto na distancia de 10km quanto na de 5km. Sem querer me desmerecer muito - definitivamente não é este o objetivo do blog, longe disto - qualquer critério técnico em que eu consiga me aplicar - ainda mais com certa facilidade - denuncia que o nível da concorrência não é lá muito alto. Mas, ao ser factível a uma parte considerável dos corredores dá um estímulo adicional aos assinantes da revista.

A prova:



A página indicava que a largada se daria às 19:30. Me programei para estar lá às 18:30. Carreguei o percurso no Garmin para ativar a função Virtual Partner para me auxiliar ao longo da corrida. Escolhi uma Corrida das Estações Adidas em que eu tinha completado em exatos 42'00", um pace de 4'14"/km. Se o objetivo é ganhar confiança, melhor fugir de metas muito ambiciosas. Embora uma prova não seja o momento de inovar, coloquei o cadarço luminoso que tinha ganho na Etapa Monumental do CBCR de 2014, que deixa o tênis ainda mais cheguei do que ele já é. Por via das dúvidas, coloquei o cadarço original na sacola caso o aquecimento desse pistas que o novo acessório atrapalharia na corrida.




Embora não fosse participar, Wandréa foi me ver na corrida. Chegando ao Eixo Monumental, nas imediações do Museu da República, descobrimos que a arena não tinha sido montada no local previsto. A estrutura erguida para a passagem da Tocha Olímpica ainda não havia sido desmontada. Por isso, resolveram levar a largada para bem próximo ao Congresso Nacional. Isso envolvia uma alteração do percurso e o fim das pretensões de usar o Virtual Partner. Ainda bem que estávamos de bicicleta e a distância de um local a outro, pela ciclovia do Eixo Monumental, foi percorrida num instante.



Deixamos as bicicletas no guarda volumes. Peguei o chip e ficamos circulando pela arena enquanto esperávamos que o horário da largada, reprogramado para às 20 horas, se aproximasse. Olhei em volta e disse para Wandréa:

- É. Hoje vai dar para fazer um graça.

A última vez que tinha dito esta frase foi na Corrida Defensoria para Todos, em São Luís, quando consegui chegar em 3º lugar na classificação geral.

Procurei sem sucesso o Rubens, na tenda do Iate. A única pessoa conhecida da noite foi a Carol, amiga de Wandréa, que, carioca como eu, trata a palavra "porra" como se vírgula fosse. Tipo eu, porra.

Tomei um gel e comecei um aquecimento meia boca, preocupado com o horário da largada. Queria pegar um lugar na frente do pelotão azul que largaria logo atrás do Pelotão Quênia. Fazia tanto tempo que não participava de uma prova da O2 que meu nome foi varrido dos bancos de dados da organização. Enquanto tentava entender as instruções do locutor sobre o novo percurso, uma garota se aproxima e pede:

- Me dá uma licença, por favor? Estou tentando chegar perto dos meus amigos que vão largar lá na frente.
- No Pelotão Quênia?
- Isso. Mas eles pagaram. Eu não quis pagar os R$ 90,00.
- Pode pagar para sair lá na frente?
- Não. Pagar para correr... A inscrição da prova...

(Suspiro) Em tempos de combate à corrupção, parece que a corrupção que realmente incomoda é daqueles que não gostamos. A nossa corrupção e a daqueles que nos são conveniente, deixa para lá. Sempre foi assim por essas bandas.

- Você pagou?
- Sim, paguei.
- Ah, tá. Deixa eu ver se encontro eles lá na frente.

A ansiedade começa a trabalhar e, para combatê-la, resolvo alimentá-la ainda mais com situações "será que vai dar tempo". Quase na hora de largar o chip, preso ao cadarço, começa a incomodar. Resolvo trocar sua posição, o que envolve refazer o encadarçamento do tênis. Será que vai dar tempo? Olho o Garmin e não estou satisfeito com os campos escolhidos. Resolvo reconfigurar as páginas de dados do relógio. Será que vai dar tempo? A luz do mostrador do Garmin só acenderá a cada quilômetro. Talvez seja melhor deixá-la ligada o tempo todo, ainda que implique num gasto maior de bateria. Procuro a configuração de luz de fundo. Será que vai dar tempo?

Deu. Largada dada, vou caminhando em direção ao tapete. Como costumo fazer, dou uma parada antes de começar a correr de verdade para ganhar um espaço livre que me permita zigue-zaguear e abrir caminho na multidão de corredores que se forma naturalmente numa largada. Subo no canteiro central que divide os sentidos das pistas em que o pórtico foi montado e quase bato de frente com um fotógrafo que se posicionou ali para registrar a largada da prova. Ao entrar no Eixo Monumental, me desloco para a direita, passo pelos cones que organização colocou para isolar a corrida e sigo no corredor formado pelo engarrafamento dos carros desviados pela via lateral ao STF pelo fechamento do tráfego na Praça dos Três Poderes.

Olho para o Garmin constantemente. O ritmo vai se aproximando dos 4'00" mas não quero que ele se aproxime tão rápido a ponto de descobrir que vinha correndo a 3'30" para compensar o tempo perdido na largada. Na Praça dos Três Poderes já ultrapassei gente o suficiente para voltar a correr pelas pistas reservadas à corrida. O Garmin apita o primeiro quilômetro: 3'58". Tem vezes que até eu me impressiono comigo mesmo.

Passamos em frente ao Palácio do Planalto e alguém grita:

- Fora Dilma!

Outrem responde:

- Não vai ter golpe!

Tempos estranhos em que corredores são compelidos à manifestações políticas em plena prova. Mais à frente outro grito de guerra:

- Uh! Sai do meio que a corrida tá sem freio!

Olho incrédulo para o sujeito que resolve desperdiçar seu fôlego desta forma. Ou talvez seja eu que leve a corrida sério demais. Chegamos à divisão das distâncias. Percebo que não tem tanta gente na minha frente que pegou o rumo dos 10k. Hoje vai dar para fazer uma graça. Continuo mantendo o ritmo, naturalmente mais rápido que o habitual, já que estou me encaminhando para o ponto mais baixo do percurso, justamente o seu retorno. Km 2, 3'53". Sigo passando de passagem pelos corredores à minha frente, mantendo um ritmo confortável. Vejo a placa da volta marcando 6 km e fico me perguntando se eu poderia considerar a missão cumprida ao passar por ela. Para mim, sempre há um local em que imagino que se passar dali, a prova está garantida. Me lembro da subida que leva ao Palácio do Planalto e da que passa ao lado do Congresso Nacional. Melhor não contar com isso.

Pego água no primeiro posto de hidratação. Logo passo pelo quilômetro 3 e verifico que o ritmo baixou um pouco. 3'57". Não consigo determinar se relaxei, se estou cansando ou se o ritmo baixou quando desviei para pegar água. Resolvo aumentar um pouco mais e fecho o km 4 em 3'55". So far, so good.

A partir do km 3,5, começo a avistar os competidores voltando. A esta altura há uma distância de cerca de 1 km entre mim e a frente da corrida. Resolvo contá-los para tentar descobrir qual a minha posição. Se não perdi a conta, 31 passaram por mim antes que eu faça o retorno.

A parte fácil ficou para trás. Agora, até o km 9, é só subida e os competidores não vão ficando mais para trás com tanta facilidade. Os que restaram parecem saber o que estão fazendo. Por volta do km 5, em mais um posto de hidratação, deixo a líder da prova feminina, acompanhada por uma moto da organização, para trás. O corredor que vinha me acompanhando há uns 500 metros, desde que emparelhamos, desiste de manter meu ritmo e também fica para trás. No km 6 chego num competidor com uma camiseta vermelha do Laboratório Sabin e ele me diz:

- Vamos garoto. Vamos manter o ritmo.

Não sei se ele está blefando para desanimar ou quer que o puxe agora que estamos entrando na parte mais difícil da corrida. Vamos correndo lado a lado e logo um pessoal que eu já havia deixado para trás se junta à nós.

Foi bastante conveniente pois, a esta altura, estávamos chegando no ponto em que encontraríamos os corredores que estavam fazendo 5 km e formamos um pequeno pelotão abrindo caminho no congestionamento. Nos aproximamos da rampa que passa ao lado do Congresso e pude perceber claramente que cada um tinha uma estratégia própria para vencê-la. Alguns apertaram o passo e subiram-na à toda. Outros, eu incluso, mantiveram o ritmo, o que não me impediu de chegar lá em cima bufando. Os dois próximos quilômetros foram os mais difíceis de todos. No final da Esplanada, no local original da largada, os corredores que eu vinha marcando visualmente hesitaram. Alguns permaneceram na pista enquanto outros resolveram pular o canteiro e pegar a pista paralela, passando por trás dos ônibus que seriam utilizados para pegar os participantes da Wings for Life, no dia seguinte, e já estavam estacionados no local. Aumentava um pouco o percurso mas trazia a vantagem de estar completamente desobstruída.

Como costuma ocorrer no último quilômetro, a visão da linha de chegada dá um gás extra e torna as coisas mais fáceis. Apesar de ter freado algumas vezes para abrir caminho no congestionamento de participantes, consegui fechá-lo em 3'58" e a corrida em 41'22".

Foi só passar a linha de chegada para a cãibra ameaçar atacar. Fui me arrastando com dificuldades na direção da tenda para devolução do chip e recebimento da medalha, evitando movimentos que pudessem desencadear o doloroso processo de contração muscular.

Encontrei com Wandréa no guarda volumes, conforme havíamos combinado anteriormente, e, depois de nos certificarmos que realmente não havia premiação por faixa etária, pedalamos de volta para casa, com um direito a uma pizza da Domino's no caminho. Tínhamos planos de repor as calorias na Creperia na 103 Sul mas a necessidade de cruzar as passarelas subterrâneas do Eixão à noite acabou nos desanimando e nos levando a um local que envolvesse menos riscos.

No dia seguinte havia mais por vir.

Conclusões:

Havia séculos desde a última vez que tinha feito este trajeto (ou uma de suas variações). Surpreendentemente, foi meu melhor tempo nele.

Apesar de inicialmente ter estabelecido uma meta de 4'14"/km , na hora da largada já estava me propondo 4'10"/km. Acabei fechando em 4'08"/km. Nada como o estabelecimento de metas realistas para se ganhar moral.

Sem querer me desmerecer demasiadamente, os "bons" resultados vêm muito mais em função do (baixo) nível da concorrência do que de méritos próprios. 14º lugar geral. 2º lugar na faixa etária.



Por mais que às vezes a Fila Night Run se assemelhe à uma balada, ir à uma balada também é legal. Se estiver em Brasília na época da segunda etapa, corrê-la-ei novamente.

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