Amanhã

São dias cinzentos como este que me trazem toda esta nostalgia. A chuva fina cai incensantemente, interrompida apenas pelas nuvens que passam baixo e deixam um rastro de umidade para debochar da secura do cerrado. Embora verão, lembram-me os dias de inverno de uma infância distante, uma época de despreocupação total e de felicidade absoluta. Uma nostalgia de uma época e de uma criança que não foram. Não da forma idealizada que surge recorrentemente, toda a vez que o céu se torna cinza e o dia triste. É uma memória plantada, como aquela que me dá a clara sensação de ter sido espectador de meu próprio nascimento. Uma nostalgia de quem eu não fui e que se mistura ao receio de não ter me tornado quem eu imaginava que seria.

Não fui absolutamente feliz mas a saudade daquela época me diz que fui suficientemente feliz. Não sou quem eu imaginava que seria mas o melhor que eu pude ser. Amanhã o cinza será substituído pelo azul de seus olhos. A nostalgia será substituída pela euforia. A tristeza será substituída pela felicidade. Amanhã será o melhor dia de todos os meus dias.