Granfondo Italia - Rio de Janeiro
Os sinais não eram muito favoráveis. Os e-mails chegaram ao longo da semana, cada um trazendo uma alteração do percurso. Até mesmo o local da chegada foi alterado. O percurso foi tão diminuído que dificilmente poderia ser enquadrado como um "Granfondo" e o trecho neutralizado, tão grande, que ele mais se assemelhava a um passeio ciclístico.
Na sexta-feira não havia a exposição prometida. Sequer havia um stand. Ou melhor: stand havia. O que não havia era a licença do Corpo de Bombeiros para utilizá-lo. Uma fita preta e amarela assinalava a interdição e nos forçava, sob ameaça de chuva, a nos aglomeramos numa fila na calçada para retirarmos os kits da corrida, ainda empacotados separadamente e montados à medida em que alguém conseguia achar seu número em listas improvisadas e gritá-lo para o pessoal da organização. Descobri o nome do Éder na listagem e mandei uma mensagem a ele avisando do tumulto.
No dia seguinte, a pá de cal. Às 6:30, no Mirante Dona Marta, tirávamos as bicicletas dos carros debaixo de chuva fina quando um rapaz passou recolhendo os chips e a organização informou que faltava mais uma licença, desta vez da Secretaria Municipal de Ordem Pública. Como era feriado, não havia como expedi-la e o evento seria cancelado. Num primeiro momento, não havia ficado muito claro se o problema era somente com a crono-escalada ou com o evento como um todo. Quando foi confirmado que não haveria corrida no dia seguinte, a revolta se tornou ainda maior e temi pela integridade física do promotor do evento, um italiano que apesar de todo o caos instalado, ao menos teve a hombridade de se expor para dar satisfação a todos os que o procuravam.
O trágico é que o evento possuía o apoio oficial da prefeitura e a licença que estava faltando era emitida por um órgão municipal. O trágico é que o despachante contratado pela organização deveria saber da necessidade de tal licença e mais trágico ainda era o fato dele ter sido contratado por indicação da própria prefeitura. O trágico é que estamos a menos de dois anos das Olimpíadas e o cancelamento de última hora de um evento realizado em várias partes do mundo e que atrai atletas de outros países não faz nada muito bem à imagem da cidade olímpica, projetando uma perspectiva sombria em relação ao sucesso do evento. Na Copa o jeitinho, o improviso e a acochambração deram conta do recado. Nas Olimpíadas pode ser diferente.
Para mim o prejuízo não foi tão grande. Minha família mora no Rio e havia quase dois anos que não aparecia por lá. Ao ouvir os comentários de pessoas que vieram de lugares tão diferentes quanto Florianópolis, São Paulo e Nova Iorque, apenas para o evento, resolvi que não fazia sentido reclamar da vida. Subi na bicicleta e, já que o tráfego estava interditada aos automóveis, resolvi fazer a subida assim mesmo.
Mandei outra mensagem para o Éder. Já estava me sentindo o arauto das más notícias. Ele lamentou mas disse que já estava esperando e que estava agitando um pedal com o Morcegão no dia seguinte. Pedi para ele me avisar caso houvesse. Ia ser a salvação pois por mais que eu pensasse, não conseguia me decidir no que fazer para substituir a corrida do domingo. Ir para Friburgo estava fora de cogitação. Apesar de toda a fissura para fazer este pedal, naquele dia, o tempo era curto demais. Pensei em ir de carro à Parada Modelo para subir a Serra de Teresópolis mas não estava me sentindo seguro de me meter nesta empreitada sozinho.
O silêncio do messenger ao longo do dia parecia indicar que eu ia acabar era fazendo nada mesmo até que o Éder deu sinal de vida e avisou que ia rolar um penal com o Rodrigo Morcegão e Gianni Bugno bem cedo no dia seguinte. Morcegão foi sete vezes campeão brasileiro de estrada. Giani Bugno, bicampeão mundial da modalidade. Acho que eu deveria me sentir um cara de sorte apesar de todos os imprevistos que ocorreram no fim de semana. Giani Bugno é comentarista da RAI e havia sido convidado como padrinho do Granfondo Italia. Aproveitou para conhecer o circuito olímpico do ciclismo de estrada que àquela altura ainda não havia sido oficialmente divulgado. O palpite do Morcegão se revelou certeiro pois o circuito que a UCI divulgou poucos dias mais tarde incluía o trecho em que pedalamos, inclusive os paralelepípedos da Praia de Grumari que, de tão irregulares, quebrou o cage da bicicleta do Rodrigo nos fez optar pelo acostamento de terra para diminuir a trepidação. Estilo Paris-Roubaix.
Depois que o Giani Bugno se despediu, demos a volta no sentido contrário do circuito e ficamos trocando várias ideias sobre bikes. Quando nos despedimos, já tinha resolvido a treinar com eles na Evolua pelo menos enquanto não volto a correr.
Na sexta-feira não havia a exposição prometida. Sequer havia um stand. Ou melhor: stand havia. O que não havia era a licença do Corpo de Bombeiros para utilizá-lo. Uma fita preta e amarela assinalava a interdição e nos forçava, sob ameaça de chuva, a nos aglomeramos numa fila na calçada para retirarmos os kits da corrida, ainda empacotados separadamente e montados à medida em que alguém conseguia achar seu número em listas improvisadas e gritá-lo para o pessoal da organização. Descobri o nome do Éder na listagem e mandei uma mensagem a ele avisando do tumulto.
No dia seguinte, a pá de cal. Às 6:30, no Mirante Dona Marta, tirávamos as bicicletas dos carros debaixo de chuva fina quando um rapaz passou recolhendo os chips e a organização informou que faltava mais uma licença, desta vez da Secretaria Municipal de Ordem Pública. Como era feriado, não havia como expedi-la e o evento seria cancelado. Num primeiro momento, não havia ficado muito claro se o problema era somente com a crono-escalada ou com o evento como um todo. Quando foi confirmado que não haveria corrida no dia seguinte, a revolta se tornou ainda maior e temi pela integridade física do promotor do evento, um italiano que apesar de todo o caos instalado, ao menos teve a hombridade de se expor para dar satisfação a todos os que o procuravam.
O trágico é que o evento possuía o apoio oficial da prefeitura e a licença que estava faltando era emitida por um órgão municipal. O trágico é que o despachante contratado pela organização deveria saber da necessidade de tal licença e mais trágico ainda era o fato dele ter sido contratado por indicação da própria prefeitura. O trágico é que estamos a menos de dois anos das Olimpíadas e o cancelamento de última hora de um evento realizado em várias partes do mundo e que atrai atletas de outros países não faz nada muito bem à imagem da cidade olímpica, projetando uma perspectiva sombria em relação ao sucesso do evento. Na Copa o jeitinho, o improviso e a acochambração deram conta do recado. Nas Olimpíadas pode ser diferente.
Para mim o prejuízo não foi tão grande. Minha família mora no Rio e havia quase dois anos que não aparecia por lá. Ao ouvir os comentários de pessoas que vieram de lugares tão diferentes quanto Florianópolis, São Paulo e Nova Iorque, apenas para o evento, resolvi que não fazia sentido reclamar da vida. Subi na bicicleta e, já que o tráfego estava interditada aos automóveis, resolvi fazer a subida assim mesmo.
Mandei outra mensagem para o Éder. Já estava me sentindo o arauto das más notícias. Ele lamentou mas disse que já estava esperando e que estava agitando um pedal com o Morcegão no dia seguinte. Pedi para ele me avisar caso houvesse. Ia ser a salvação pois por mais que eu pensasse, não conseguia me decidir no que fazer para substituir a corrida do domingo. Ir para Friburgo estava fora de cogitação. Apesar de toda a fissura para fazer este pedal, naquele dia, o tempo era curto demais. Pensei em ir de carro à Parada Modelo para subir a Serra de Teresópolis mas não estava me sentindo seguro de me meter nesta empreitada sozinho.
O silêncio do messenger ao longo do dia parecia indicar que eu ia acabar era fazendo nada mesmo até que o Éder deu sinal de vida e avisou que ia rolar um penal com o Rodrigo Morcegão e Gianni Bugno bem cedo no dia seguinte. Morcegão foi sete vezes campeão brasileiro de estrada. Giani Bugno, bicampeão mundial da modalidade. Acho que eu deveria me sentir um cara de sorte apesar de todos os imprevistos que ocorreram no fim de semana. Giani Bugno é comentarista da RAI e havia sido convidado como padrinho do Granfondo Italia. Aproveitou para conhecer o circuito olímpico do ciclismo de estrada que àquela altura ainda não havia sido oficialmente divulgado. O palpite do Morcegão se revelou certeiro pois o circuito que a UCI divulgou poucos dias mais tarde incluía o trecho em que pedalamos, inclusive os paralelepípedos da Praia de Grumari que, de tão irregulares, quebrou o cage da bicicleta do Rodrigo nos fez optar pelo acostamento de terra para diminuir a trepidação. Estilo Paris-Roubaix.
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| Gianni Bugno, Morcegão, Éder e eu. |

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