O lado irracional
4 meses sem correr. 3 semanas sem pedalar. Pra completar, a natação que seria uma alternativa para me manter em atividade, ressuscitou a antiga dor no ombro. Prometi a mim mesmo que vou tentar diagnosticar esta dor na próxima consulta ao ortopedista, nem que seja para nomeá-la corretamente da próxima vez que mencioná-la. Bursite? Tendinite? Velhice?
O ponteiro da balança insiste em subir. 79 kg. Algo que não acontece desde o tempo em que era sedentário. Desespero. Depressão. Nestas horas o bom senso evapora. Não há progresso palpável que indique que eu vá voltar a correr num futuro próximo. Fisioterapia, gelo, repouso, antiinflamatórios não hormonais, corticóides. Nada disso parece adiantar. Qualquer período sem dor que insinue que as coisas estão finalmente se encaminhando para um desfecho favorável é imediatamente seguido por pontadas de dora aqui e ali, sugerindo que ainda há um caminho longo a ser trilhado antes das coisas voltarem aos eixos. Se é que um dia voltarão. Começo a me questionar se um dia serei capaz de fazer novamente os longões de domingo no Eixão de que tanto gostava. A falta de perspectiva é algo que incomoda mais do que a dor em si. Se houvesse um prognóstico preciso, você vai conseguir correr no dia 26 agosto, não antes nem depois, eu me conformaria e me programaria para ficar 6 meses parado. Mas as ciências envolvidas não são exatas. Medicina não é uma ciência exata. Fisioterapia não é uma ciência exata. Nem mesmo a ressonância, com todo o detalhamento das imagens, parece ser uma ciência exata. Acusou uma inflamação no único lugar em que a dor nunca se manifestou. Será que o exame não foi trocado e há uma outra pessoa se perguntado por que está sentindo dor em todos os locais do joelho exceto aquele indicado na ressonância?
O irracional assumiu. Já que o repouso não está adiantando, que tal fazer o contrário? Que tal estressar ao máximo a fonte da dor, seja ela qual for? Calcei o tênis, peguei o Garmin e parti pra pista. Às 22:00. Não foi a primeira vez que uma noite insone me levou a correr. Já saí pra rodar às 02:00 da manhã, para a estranheza dos bebuns que finalizavam os trabalhos da noite.
2 km. A dor começa. A dor sempre começa nos 2 kms. Parece tão intensa quanto das primeiras vezes que ela se tornou minha parceira inseparável de corridas. Há mais 2 kms pra percorrer de volta, feitos num misto de raiva, decepção e dor.
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