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Se meus joelhos não doessem mais - parte I.

Outubro de 2014. Lua de mel. Alagoas. Terra de Fernando Collor e de Renan Calheiros. Mas também a terra de Aurélio Buarque de Holanda como fez questão de frisar o taxista ao passarmos pelo Passo de Camaragibe, a caminho de São Miguel dos Milagres, a pouco mais de 100 km de Maceió:

- Tá pensando que aqui só tem ladrão?

Pousada à beira de uma praia paradisíaca com pouquíssimo movimento. Levei o five fingers na bagagem para correr na areia e desgastar todas as calorias que viagens costumam adicionar à conta. Para um lado, corria-se em direção a um riacho tão modesto que dava para transpô-lo quase sem molhar os pés. Correndo um pouco mais, chegava-se a um rio de verdade bem na hora de retornar. Para o outro, corria-se ao longo de coqueirais e barcos de pescadores. Tudo de bom. Dava para sentir a musculatura sobrecarregada pelo esforço diferente do habitual mas àquela altura até parecia ser uma vantagem.

De volta à Brasília, de volta à pista. Comecei a sentir uma dor na canela mais ou menos como a que senti quando tive uma tendinite no tibial anterior. Ainda assim, entre uma prova de ciclismo no Autódromo de Brasília, trotes e treinos, a vida foi seguindo. Na semana seguinte, senti uma dor diferente no joelho. No treino seguinte, logo no primeiro tiro, antes de completar 400m, uma dor apareceu no joelho e resolvi encerrar o treino. Ainda tentei voltar na sessão seguinte mas a dor apareceu novamente no mesmo ponto e eu fui forçado a parar. Diagnostiquei uma tendinite no joelho e me prescrevi o tratamento de praxe: gelo e repouso. Como eu conseguia pedalar, substituí as corridas pelos pedais e fui mantendo a forma em jornadas intermináveis em cima da bike. O fato de ter uma atividade alternativa evitava que entrasse em desespero como ocorreu das outras vezes que me machuquei. Canalizei toda a dedicação das corridas para a bike e não posso negar que estava me divertido à vera.

Fui participar do Grandfondo Italia Rio que por questões burocráticas acabou não ocorrendo mas ainda assim acabou rendendo um pedal magnífico com o Rodrigo Morcegão e o Gianni Bugno, 7 vezes campeão brasileiro de ciclismo de estrada e 2 vezes campeão mundial, respectivamente. Me juntei à Evolua e fui treinando, treinando, treinando até que chegar no Pelotão do Lago Sul passou a ser mais a regra do que a exceção e me fez pensar que quando comprei minha primeira speed, esse era um objetivo que parecia inalcançável. Era o mesmo pensamento que tinha a respeito de provas de longa distância. Uma meia-maratona já parecia muito mais do que eu um dia seria capaz de fazer. Costumamos subestimar nossos limites constantemente.

No último pelotão do ano, caí. A mão escorregou do guidão quando eu passava num ressalto do asfalto e eu acabei indo ao chão. Por sorte, estava na rabeira do pelotão e levei pouca gente comigo. No pelotão, meu maior receio não é propriamente cair, mas derrubar outros ciclistas. Voltei para casa com o quadro trincado mas, com exceção do braço lanhado, inteiro.
Selfie pós-queda
Consegui o contato de um mecânico que conserta quadros de carbono em Uberaba e despachei a bike para lá no dia seguinte com uma estimativa de 15 dias para recebê-la de volta. Semana entre o Natal e o Ano Novo... É ruim. Vai demorar muito mais do que isso, pensei com meus botões. Mas tudo bem. A contra-relógio continuava disponível e, apesar de não ser muito bem vista no pelotão, continuei indo aos treinos e ao Pelotão do Lago Sul nela. Também girava sozinho nos dias que normalmente estariam reservados às corridas. De certa forma, pedalar estava bastando e embora eu estivesse ansioso para voltar a correr, as decepções que tinha toda a vez que me arriscava no trote eram compensadas pelo prazer de girar 300km por semana.

Já fazia 3 meses e o joelho continuava na mesma. Acabei fazendo aquilo que disse que não ia fazer: consultar o ortopedista. Não estava muito interessado em confirmar o diagnóstico. Para mim ele estava claro. O que eu realmente queria era uma bela duma infiltração de corticóides que acabasse com a dor e me permitisse voltar a correr.

Nem precisou de ressonância. O diagnóstico saiu só de manipular o joelho: tendinite do tendão patelar. O tratamento: Profenid. Se não resolvesse até o fim de semana, 10 sessões de fisioterapia. Natação para manter a capacidade cardio-respiratória. Pode continuar pedalando. Acho que ele não tem ideia do quanto eu pedalo diariamente. Melhor eu me calar ou ele pode me mandar maneirar na dose. Quanto à infiltração, a real motivação da consulta, foi taxativo:

- Eu não faço infiltração neste tendão. Não tenho dúvidas que melhora mas existe uma série de estudos indicando que o risco de ruptura dele cresce enormemente.

Que não ia funcionar, nem eu nem a torcida do Flamengo tinham dúvidas. Por melhor que seja o Profenid, não dá para levar a sério a hipótese que 3 meses de tendinite serão resolvidos em 5 dias de anti-inflamatórios. Aliás, por melhor que seja um anti-inflamatório, a triste realidade é que a influência deste tipo de medicamento no processo de cura das tendinites é ínfima, se é que há alguma. Eles aliviam a dor mas, o que pode acabar se tornando uma desvantagem se nos leva a forçar a lesão sem que a dor, esse maravilhoso recurso de auto-preservação, nos alerte. Além, é claro, de acabar com nosso estômago.

A minha experiência dizia que tendinites têm cura. Mas não tem tratamento. Só há duas coisas que realmente fazem diferença: o tempo e o repouso e não há nada, absolutamente nada, que a medicina, ao menos no nível clínico, tenha a oferecer para acelerar o processo que não seja uma injeção de corticóides no local da inflamação. Infelizmente, ainda que inócuo, há um protocolo que os ortopedistas seguem: prescrever gelo e anti-inflamatório e, se não resolver, volta daqui a 15 dias. Como o plano de saúde está cobrindo as despesas, o período entre a consulta e o retorno é preenchido por 10 sessões de fisioterapia. Essas sessões também não tem qualquer influência na cura das tendinites e servem apenas para nos dar a impressão que estamos fazendo alguma coisa para resolver o problema.

Hoje, minha experiência diz exatamente o mesmo.

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