Header Ads

Header ADS

Se meus joelhos não doessem mais - Parte II

Encontro um colega na porta do trabalho, triatleta. Um papo casual entre atletas vai invariavelmente envolver provas, treinos ou contusões e, como não pode deixar de ser, o joelho vem à tona.

- Ainda? Mas você tá tratando dele?

Sou uma pessoa normal. De vez em quando faço coisas nas quais não tenho a menor convicção apenas para dar uma satisfação às pessoas. Estou resolvido a continuar o tratamento convencional, mesmo não tendo convicção de que o tratamento convencional seja efetivo.

Depois de findo o prazo regulamentar de 10 sessões de fisioterapia, volto no ortopedista. Desta vez, saio de lá munido de uma receita de Celebra, um pedido de ressonância magnética e, como não podia deixar de ser, mais 10 sessões de fisioterapia.

Minha última contusão grave tinha sido uma tendinite no tibial. Canelite. O ortopedista me solicitou uma ressonância e me pediu que a fizesse ainda naquele fim de semana para um retorno na segunda-feira. Consegui marcar o exame em um sábado de manhã. Depois de uns 20 minutos alternando entre a concentração absoluta para não me mexer e a sonolência incontrolável que, apesar das advertências para que me mantivesse imóvel para não estragar o exame, me fez ignorar o barulho ensurdecedor e cochilar algumas vezes, recebi a notícia que o médico só laudava os exames às quintas e eu teria que esperar até lá para pegar o resultado.

Na minha cabeça, o tempo que gastei na sala de espera foi maior do que o tempo que o médico gastaria na análise da minha ressonância. Na minha cabeça, quem vai fazer um exame num sábado de manhã, é porque está com pressa. Se uma pessoa que vai fazer uma ressonância está com pressa, é porque está com dor. E se está com dor, é um pouco cruel fazê-la esperar 5 dias antes que ela possa iniciar o tratamento para amenizar esta dor só porque o médico que lauda os exames trabalha em um monte de outros lugares e, pela sua própria conveniência, escolheu concentrar a tarefa de analisar todos os laudos daquela clínica num único dia de semana. Infelizmente, entre a conveniência do médico e o bem estar do paciente, não é preciso dizer quem leva vantagem.

Desta vez a espera não foi longa. Talvez o médico laudasse os exames da clínica num dia mais próximo da minha ressonância. Enquanto aguardava, tinha a fisioterapia. Avaliação. Alongamento. Infravermelho. Ultrassom. Gelo. Saco. A fisioterapeuta não estava bem certa do diagnóstico. Disse que lhe parecia uma condropatia. Bastante tranquilizador. Depois de 3 sessões o laudo sai. Síndrome de fricção da banda iliotibial. Nunca tinha ouvido falar dela mas parece melhor do que uma condromalácia. Retorno ao ortopedista que manda prosseguir com as sessões de fisioterapia. A fisioterapeuta também dá uma olhada na ressonância e acrescenta um alongamento na série prescrita para o tratamento da tendinite. Parece que o tratamento para todos os males de joelho são parecidos.

Para o bem e para o mal o Dr. Google está aí. Pergunto-lhe o que é "síndrome da banda iliotibial" e descubro que é a principal causa de dor lateral do joelho nos corredores, ao ponto de ser apelidada "Joelho de Corredor". E eu que nunca tinha ouvido falar dela. Só tem um problema: tirando o fato do problema se manifestar após uma determinada distância - 2 km àquela altura - os sintomas não se parecem muito com as descrições fornecidas pelo oráculo. A dor aparece no lado interno do joelho, justamente o oposto da banda. Estava com a impressão que haviam trocado meu exame e que havia alguém com síndrome da banda iliotibial com uma ressonância que indicava um outro problema qualquer no joelho. Tinha a impressão que estava tratando a ressonância, não o joelho do Max e cheguei a manifestá-la à fisioterapeuta.

Enquanto não conseguia voltar a correr, continuava pedalando. Loucamente. Fechando o Pelotão A do Lago Sul sprintando no final. Até o dia em que recebo um telefonema. Estava na quadra de futebol com Biel quando  Laurent me liga. Me pergunta como está o joelho, se eu continuo pedalando, se eu ganhei peso. Até que ele me solta:

- Olha, acho que se você não parar totalmente, não vai ficar bom tão cedo. Uma coisa é pedalar no parque. Outra coisa é rodar 80, 100 km. Sabia que o Bernard Hinault teve que abandonar um Tour de France por causa de uma tendinite no joelho com a camisa amarela? Acho que você devia dar um tempo.

Laurent não vê Facebook, não tem Strava. Se ele sabe que eu estou pedalando 80, 100km é porque alguém contou para ele. Wandréa. Só pode ser ela.

No fundo, no fundo, tenho a impressão que ele tem razão. Apesar do ortopedista ter liberado o pedal, a impressão que eu tenho é que se não tá piorando, definitivamente não está ajudando. O problema é ficar sem um substituto para as corridas. Antigamente, eu estimava que 4 quilômetros de pedal eram equivalentes a 1 quilômetro de corrida. Se pedalasse 45 kms, então, estava no zero a zero em relação aos 11 quilômetros que eu costumava trotar diariamente. Com o passar do tempo, passei a monitorar a quantidade de calorias queimadas no Garmin. 700 calorias diárias que terão que ser cortadas de alguma forma.

Se levarmos em conta apenas as calorias, há uma grande diferença entre correr e pedalar. Correr é muito mais prático. Em 1 hora as calorias estão queimadas e o problema, resolvido. Na bike, leva ao menos o dobro do tempo. Às 9 horas eu já tinha feito meu longão e estava em casa de banho tomado esperando a molecada acordar para curtir o domingo. Hoje, chego do Pelotão a tempo de me arrumar para o almoço e não me lembro qual foi a última vez que fui ao clube.

Por falar em praticidade, manter-me ativo durante uma viagem também fazia toda a diferença. Um par de tênis ocupa consideravelmente menos espaço do que uma bike. Agora, toda a viagem que não tenha a bicicleta como tema implica numa interrupção do treinamento. A volta após uma interrupção dos treinos é sofrida. Os companheiros de atividade ganharam condicionamento enquanto quem tá de fora perdeu. Se torna difícil e quando as coisas ficam difíceis, acabam sendo postas de lado.

Converso com Wandréa sobre o telefonema. Ela é da mesma opinião. Se eu não parar com todas as atividades que envolvam o joelho, ele não vai melhorar. Quando me machuquei, imaginava que ano que vem estaria correndo novamente. O ano novo passou e eu me tranquilizava imaginando que depois do carnaval estaria de volta. O carnaval está chegando e não há nenhuma perspectiva de voltar a correr. Pior de tudo: estou inscrito no Desafio da Serra do Rio do Rastro. Tinha planos de dar um tempo somente depois da prova. Como disse anteriormente, às vezes faço coisas só para dar uma satisfação às pessoas. A bike vai ficar encostada durante um tempo.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.