O Pequeno Glossário de Ciclismo
Cada tribo, além de suas próprias piadas internas, tem seu próprio dialeto. Para evitar que você, principiante, fique boiando nas rodas de conversa que se formam entre um pneu furado e outro elaborei esse pequeno glossário para lhe ajudar a se enturmar com seus novos amigos ciclistas.
B
- Bretelle: suspensórios, em francês. Em bicicletas de competição, speed ou Mountain Bike, o estofamento do selim, quando existe, geralmente não existe. Para dar um mínimo de conforto aos ciclistas, são as bermudas que são acolchoadas. Para evitar que elas se desloquem e levem o acolchoado para um lugar em que ele não será eficiente, existem os bretelles que nada mais são do que bermudas com suspensórios acoplados.

C
- Cadência: velocidade com que se gira os pedais. Cada ciclista possui uma faixa ótima de cadência. É medida em rotações por minuto (rpm) e está diretamente relacionada à velocidade com que a bicicleta está se movendo e a relação de marchas usada no momento. Pode-se fazer uma analogia aos giros de um motor à explosão. Uma vez que a potência pode ser expressa como sendo força vezes deslocamento sobre tempo, uma mesma potência pode ser atingida exercendo menos força nos pedais com uma cadência maior ou exercendo mais força com uma cadência menor. No primeiro caso, exige-se mais do sistema aeróbico enquanto, no segundo, há um desgaste muscular maior. Lance Armstrong inaugurou a tendência de pedalar com uma cadência sensivelmente mais elevada do que era usual até então, tendência esta que permanece até hoje.
- Câmbio: mecanismo que guia a corrente entre catracas adjacentes no caso do câmbio traseiro ou entre coroas adjacentes quando nos referimos ao câmbio dianteiro. Os câmbios podem ser manuais ou eletrônicos.
- Campagnolo: fabricante italiano de peças de bicicletas.
- Cara no vento (ficar de): diz-se do ciclista que está pedalando sem contar com o auxílio de um pelotão, seja porque está liderando a formação, seja porque, devido a uma fuga ou sobra, está pedalando sozinho.
- Cassete: o conjunto de catracas do câmbio traseiro. Especificado pelo número de dentes da menor e da maior catraca. Um cassete 11-28 tem uma catraca menor com 11 dentes e a maior com 28.
- Cateye: marca mais popular de ciclocomputadores, acabou se transformando numa metonímia para designar este tipo de acessório.
- Catraca: cada uma das rodas dentadas do câmbio traseiro de uma bicicleta.
- Chegada ao alto: acontece quando o final da prova está numa subida. Diferentemente do que acontece numa chegada plana, este tipo de chegada tende a fazer com que os competidores cheguem com grandes variações de tempo entre si. Este tipo de chegada é especialidade dos escaladores e costuma definir os vencedores da Classificação Geral (GC) de uma volta.
- Chegada massiva: ocorre quando um pelotão grande se aproxima a alta velocidade da linha de chegada. Exclusiva de chegadas planas, tendem a ser emocionantes, propensas a quedas e a favorecer os sprinters. Justamente por serem emocionantes, são as chegadas que mais têm apelo junto aos espectadores.
- Controlar (a fuga): ocorre quando os líderes do pelotão ditam um ritmo que impede que a distância entre eles e a fuga aumente a tal ponto que impossibilite que seja neutralizada.
- Coroinha (ficar de): como o nome sugere, coroinha é o menor dos discos do câmbio dianteiro, posicionada junto ao pedivela. Ficar de coroinha, portanto, é quando por algum motivo, seja pelo relevo do terreno, seja pelos objetivos no treinamento, mantém-se o câmbio dianteiro na menor coroa do câmbio dianteiro. Em alguns lugares, o termo ficar de volantinho é usado como sinônimo.
- Coroão (ficar de): como o nome sugere, coroão é o maior dos discos do câmbio dianteiro, posicionada junto ao pedivela. Ficar de coroão, portanto, é quando por algum motivo, seja pela velocidade que se está pedalando, seja pelos objetivos no treinamento, mantém-se o câmbio dianteiro na maior coroa do câmbio dianteiro. Em alguns lugares, o termo ficar de volantão é usado como sinônimo.
- Cruzar a roda: situação na qual a roda do ciclista que vem atrás ultrapassa, ainda que por uma pequena distância, a roda do ciclista que está a sua frente. É uma situação perigosa que deve ser evitada. Uma movimentação lateral do ciclista da frente pode resultar num toque e queda.
E
- Escalera: revezamento organizado entre ciclistas com objetivos comuns. Os membros da escalera podem pertencer a uma mesma equipe ou não. Comum numa fuga onde os membros devem trabalhar juntos para se distanciar do pelotão. O revezamento contribui para que cada membro da escalera fique o menor tempo possível de cara no vento e para aumentar a velocidade média da formação. Existem diversos tipos de escalera. Na escalera simples, um competidor fica um tempo na frente da formação, abre para o lado e desacelera até atingir o final da formação quando, então, retorna à formação até que o revezamento o coloque novamente na frente. Esta escalera pressupõe que todos tem a real intenção de agir colaborativamente e, por isso, é bastante utilizada em competições contra relógio por equipe. A escalera dupla tem este nome por ser formada por duas filas que andam em velocidades diferentes. Ao atingir o início da fila rápida, o ciclista passa à frente da fila lenta e desacelera com o intuito de manter a velocidade da fila lenta. O revezamento o fará atingir o final desta nova fila quando, então, ele volta à fila rápida, acelerando para manter a velocidade dela. Nesta formação, ou o ciclista colabora ou acaba sobrando e, por isso, é bastante utilizada quando ciclistas de equipes diferentes estão atuando coletivamente.
F
- Fuga: movimento em que um ciclista ou um grupo pequeno de ciclistas ataca o pelotão com o objetivo de ganhar distância da formação. Praticamente toda a corrida tem uma fuga. O objetivo ser tático ou comercial. No primeiro caso, pode ser uma tentativa de ganhar a prova ou uma meta volante escapado ou, ainda, o de se posicionar na parte da frente para ajudar um companheiro que, não sendo escalador, corre o risco de sobrar numa subida e precisará de um gregário para reconectá-lo ao grupo dos líderes. Nas grandes voltas, há prêmio para o ciclista mais combativo de cada etapa, normalmente distribuído para os membros de uma fuga. O objetivo comercial consiste em ganhar tempo de exibição do patrocinador na mídia já que, nas transmissões das provas, sempre há uma câmera acompanhando a fuga que acaba ganhando um destaque proporcionalmente maior que o pelotão. Tomar parte numa fuga consome muito mais energia do que estar no pelotão e é, na realidade, um movimento suicida já que o pelotão costuma controlar e neutralizá-la e, em chegadas planas, uma fuga raramente vinga.
G
- Ganhar escapado: ocorre quando um competidor se lança numa fuga e consegue vencer a prova sem ser alcançado pelo pelotão. É um evento raro em chegadas planas mas bastante comum nas chegadas ao alto.
- Garmin: marca reconhecida de GPS, acabou se transformando numa metonímia para denominar os ciclocomputadores dotados deste tipo de sistema de posicionamento.
- Gregário: ciclista cuja missão, numa prova, é trabalhar em função do capitão da equipe. Ele é responsável por pegar os mantimentos para o capitão nos pontos de abastecimento. Caso o capitão tenha algum problema e sobre, ele fica para trás para fazer força de forma a reconectá-lo ao pelotão. Em caso de problemas mecânicos, o gregário pode ceder sua bicicleta ao capitão. Por todo este sacrifício, é de praxe que o capitão divida a premiação com todos os membros de sua equipe.
- Grupo: conjunto de peças essenciais de uma bicicleta, excluindo-se o quadro e as rodas, de um mesmo modelo e de um mesmo fabricante. Inclui câmbio dianteiro, câmbio traseiro, cassete, coroas, corrente, freios, passadores e pedivelas. Uma bicicleta com um grupo 105, portanto, é uma bicicleta com todas essas peças do modelo Shimano 105. Os componentes dos fabricantes Shimano e SRAM geralmente são compatíveis entre si. Já os da Campagnolo, terceiro mais importante fabricante de peças de bicicletas são incompatíveis com os dos concorrentes.
H
- Hidratação: cerveja. Ex: aonde vai ser a hidratação após o treino? Aonde vamos beber cerveja depois do treino.
K
- KOM: acrônimo para King Of the Mountain, rei da montanha. Usado no Strava para denominar o atleta masculino com o melhor tempo de um segmento. Ex: Normal tem o KOM da Dom Orione. Normal tem o melhor tempo no segmento da subida Dom Orione.
M
- Meta de montanha: objetivo, localizado no topo de alguma subida intermediária da prova, em que são distribuídos pontos àqueles que cruzam primeiro. Estes pontos, somados aos pontos distribuídos nas chegadas ao alto, determinam a Classificação do Rei da Montanha (King of Mountain, em inglês ou, de forma abreviada KOM).
- Meta volante: objetivo localizado em algum lugar no trajeto de uma prova, em que são distribuídos pontos àqueles que cruzam primeiro. Quando há um grupo numa fuga ou o pelotão está compacto, a disputa entre os competidores nas metas volantes são denominadas sprints intermediários. As metas volantes costumam premiar os sprinters e seus pontos, somados aos pontos distribuídos nas chegadas de cada etapa, determinam a Classificação por Pontos de uma volta.
N
- Neutralizar(a fuga): ocorre quando o pelotão alcança a fuga antes de um determinado objetivo, seja o fim da prova, seja uma meta volante.
P
- Pedal de encaixe: às vezes é chamado erroneamente de pedal de clipe já que o termo utilizado em inglês para denominar esse tipo de pedal é clipless pedals. O encaixe é feito através da pressão do taco, preso na sola da sapatilha, em um mecanismo no pedal. O desencaixe, por sua vez, é feito pela torção lateral das sapatilhas. Existem 4 padrões principais de pedais de encaixe: Shimano, Crankbrothers, Look e Time. Geralmente, as sapatilhas são capazes de acomodar os tacos de qualquer um desses padrões, embora os padrões sejam completamente incompatíveis entre si.
A adaptação aos movimentos de encaixe e desencaixe dos pedais costuma ser rápida porém, neste período, as quedas quando a bicicleta está sem movimento são praticamente garantidas. A força necessária para o encaixe e desencaixe dos pedais é regulável através de um mecanismo no pedal. - Pedivela: é o braço de alavanca acionada pelos pedais. Às vezes, é erroneamente chamada de pé-de-vela. Pedivela refere-se a qualquer alavanca acionada pelos pés, assim como manivela denomina qualquer alavanca acionada pelas mãos.
- Pelotão: grupo de ciclistas que se mantém juntos com o objetivo de poupar energia e aumentar a velocidade média que conseguiriam manter caso estivessem pedalando isoladamente. Numa competição, é comum uma equipe assumir a liderança do pelotão para impor sua estratégia que pode ser tanto aumentar como diminuir a velocidade do grupo. No primeiro caso, o interesse pode ser desestimular um movimento de fuga, desgastar os demais competidores de forma a aumentar a chance do sprinter numa chegada plana ou aumentar a distância de um competidor rival que tenha tido algum problema e esteja sobrado, tentando se reconectar ao pelotão. No segundo caso, provavelmente há um membro da equipe numa fuga e a equipe quer evitar que o pelotão o alcance para lhe proporcionar uma vitória escapada.
- PR: acrônimo para Personal Record. Usado no Strava para indicar o melhor tempo de um atleta em um determinado segmento.
Q
- QOM: acrônimo para Queen Of the Mountain. O feminino de KOM.
R
- Relação (de marchas): combinação entre a coroa do câmbio dianteiro e da catraca do câmbio traseiro.
S
- Shimano: fabricante japonês de peças de bicicletas e equipamentos de pesca.
- Sobrar: ocorre quando o ciclista se desconecta do pelotão, seja em virtude de algum problema mecânico, seja por não ter conseguido acompanhar o ritmo do pelotão.
- Sprinter: é o ciclista que consegue manter altas potências por um curto espaço de tempo.São os sprinters os principais favoritos em chegadas planas. Por outro lado, seus biotipos não os favorecem nas subidas e eles costumam sobrar nas provas de montanha. Como a diferença entre os vencedores e o pelotão numa chegada plana é muito pequena e a diferença entre os vencedores e sprinters numa etapa de montanha é muito grande, os sprinters disputam a Classificação por Pontos mas raramente são considerados candidatos à Classificação Geral de uma volta.
- SRAM: fabricante americano de peças de bicicletas.
- Strava: rede social para atletas, muito popular entre ciclistas e corredores, oferece uma vasta gama de ferramentas para análise de treinos. Possui um aplicativo para smartphone que grava atividades com ou sem auxílio de sensores externos (monitor cardíaco, cadência, potência e velocidade), que se comunicam com o aplicativo através dos protocolos ANT+ ou Bluetooth. O aplicativo utiliza o GPS embutido do smartphone para determinar a posição, instante a instante, e traçar em um mapa o deslocamento efetuado durante a atividade. Também é possível carregar dados que tenham sido gravados em dispositivos de terceiros, como um Garmin.
Além de ser possível a análise dos parâmetros colhidos pelos sensores a cada instante do treino, é possível criar segmentos, trechos de interesses como uma subida ou um percurso, e comparar os tempos de todos os atletas que tenham executado o segmento, gerando rankings gerais, por idade, sexo, peso e times, o que acirra ainda mais a rivalidade entre eles.
Os dados no Strava são tratados com tanta deferência que há um ditado entre os ciclistas que diz que um treino "se não está no Strava, não existiu".
T
- Trem de embalada: formação de uma equipe que, próximo à linha de chegada, se mantém em linha e em altíssima velocidade, na frente do pelotão. O membro na frente do trem pedala até a exaustão e, então, cede a vez para o ciclista que está atrás dele fazer o mesmo. O objetivo é que o último membro do trem, o sprinter, esteja na frente do pelotão, próximo à linha de chegada, em condições de vencer a prova na arrancada final. Numa chegada massiva, é comum observarmos vários trens atuando simultaneamente, cada um tentando deixar seu sprinter em melhores condições de vencer.
Z
- zerar (o trecho): em Mountain Bike, diz-se que o trecho foi zerado quando ele é percorrido sem que se coloque os pés no chão.








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