Header Ads

Header ADS

Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro - 2010

Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro - 2010

GPSies - Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro
Percurso carregado para o meu Garmin e utilizado durante a prova

Saindo do Leblon, o Recreio dos Bandeirantes fica longe pra caramba. Lembrei-me disso dentro do carro, às 6:30, indo em direção ao Pontal. Imaginar o trajeto todo de volta acrescido de 10km e, ainda por cima, correndo, fez surgir um certo desânimo. Coloco esse pensamento de lado. Nesse dia se encerrava um ciclo de 3 meses de treinamento e não é hora para desmotivações gratuitas.

Às 6:40 estava frio, úmido e ventava forte - na direção contrária ao trajeto, para piorar - mas ao menos não chovia. Comprei uma garrafa d'água e procurei um lugar para me sentar e poupar as energias. Acabei encontrando o Rech, amigo de Brasília que, infelizmente, não está mais treinando com a equipe. Seus objetivos - correr as ultramaratonas Two Oceans e Comrades, ambas na África do Sul - requerem um treinamento especializado e ele acabou migrando para um outro treinador. Enquanto colocávamos o papo em dia, vimos a elite feminina largar e, pouco depois, nos despedimos. Comi uma barrinha, coloquei a água para fora com certo receio que a Guarda Municipal fizesse uma operação de repressão aos mijões - infelizmente os banheiros químicos não estavam dando vazão - despachei o agasalho no guarda volumes e fui para a largada.

Às 7:30 largou a elite masculina e, logo depois, o pelotão geral. Estava na parte da frente e, desta forma, não perdi muito tempo no primeiro quilômetro. O tempo de 4'42" era justamente o ritmo programado para a prova.

Havia combinado com o Laurent, meu treinador, de fazer os primeiros 30km divididos em 3 partes de 10km, cada um em um tempo de 47'. A partir daí, não tem técnico ou estratégia: é na garra. Manter o ritmo significaria chegar em 3:18'20", meta que vínhamos ajustando - invariavelmente para menos - ao longo do treinamento para a prova.

A largada se dá no sentido contrário ao Aterro do Flamengo e o retorno fica mais ou menos no km 1,7. Km 2 em 4'33". "Tá forte. Se lembra do ano passado que você largou forte demais e quebrou no final de Ipanema" - pensei comigo mesmo. Tentei diminuir o ritmo mas a empolgação e a adrenalina falaram mais alto: km 3 novamente em 4'33". Passei pela largada novamente e agora o vento contra que me acompanharia até o final da corrida começa a incomodar. Tento me consolar pensando nele como um pretexto caso não consiga bater a meta o que, de certa forma, alivia um pouco a pressão em relação ao resultado.

Do km 6 ao km 14 o trajeto passa pela Reserva, uma reta enorme e deserta. Os quiosques, se é que vão abrir em um dia chuvoso como esse, ainda estão fechados e somente os corredores povoam a área. Agora os quilômetros começam a passar mais rápido. Não prestei atenção à placa que indicava a passagem pelo 8º e tive que recorrer ao GPS para me posicionar - estava um quilômetro à frente do que imaginara. Tomei meu primeiro sachê de gel no próximo posto de hidratação e logo estava no km 10. 46'14" - 46" de vantagem em relação ao programado. Procuro me abrigar atrás de outros corredores na tentativa de me proteger do vento.

Estou agora na praia da Barra, correndo pela pista da direita. De vez em quando surgem algumas poças grandes e eu, a exemplo de outros corredores, pulo para a ciclovia para não molhar o tênis. Tudo o que eu não preciso, além do vento que, pelo menos agora vem lateralmente, em direção ao mar, é do tênis encharcado e pesado. No km 15, mais um sachê de gel, esse distribuído pela organização da prova. Logo surge um posto com Powerade e eu não recuso, a exemplo dos demais postos de hidratação - procuro sempre pegar um copo e tomar ao menos um gole. Tomei os 500 ml e a quantidade de líquido me fez sentir um pouco cheio.

Km 20: 1:32'59". 1'01" de vantagem em relação ao programado. Logo chego à metade do percurso onde, para mim, a prova começa a ficar realmente interessante. Subo o viaduto em direção ao Túnel do Joá e, lá dentro um corredor grita:

- Jesus te ama! Jesus te ama!

Pensei: "Se isso é verdade, por que ele continua a mandar o vento contra"? O Elevado do Joá é uma das paisagens mais bonitas do Rio de Janeiro e, tirando os 4.000 felizardos - ou malucos, ou masoquistas, dependendo do seu ponto de vista - que passaram por ele hoje, quem tem a oportunidade de correr através dele? Pra ficar ainda melhor, é uma descida! Apreciei a vista e, logo estou no Túnel de São Conrado, iluminado como uma boate pela Light. O cara continua na minha frente gritando:

- Jesus te ama! Jesus te ama!

Passo por ele antes de chegar à praia de São Conrado. Mais um sachê de gel e chego à subida da Niemeyer. Um corredor de Brasília para à minha frente e, ao retomar a corrida diz:

- Subidinha cruel essa.

Tento animá-lo:

- Ela tá acabando e depois é só alegria.

Alguns meninos do Vidigal estendem a mão para que eu os cumprimente e um deles me pede o boné. É ruim, hein. Vou correr 42 km  para merecê-lo e você quer ganhá-lo assim de mão beijada, somente por assistir à corrida? Km 30: 2:19'49", uma folga de 1'11". Chego ao final da Niemeyer e tomo mais um sachê de gel, desta vez um pouco antes do programado.

Chego à praia do Leblon e, na altura do hotel Marina encontro a minha mãe.

- Oi vó - grito.

Ela acena de volta e eu sigo em frente. Nesse momento me bate uma euforia, a confirmação de que, naquele ritmo, dava para chegar bem. Surge um sorriso e ele me acompanha até a praia do Arpoador. Foi nesse ponto que eu quebrei no ano passado mas, hoje, passo por ele sem maiores problemas. Os banheiros químicos que eu usei como pretexto para dar uma paradinha não estão lá e o tão falado muro, o momento onde a energia acaba repentinamente não aparece.

Mudo o relógio para a função "Parceiro Virtual" que indica o quanto eu estou à frente ou atrás de um ritmo pré estabelecido. Tenho uma folga de alguns segundos em relação ao final do percurso que, a essa altura, já tem um gap considerável em relação ao marcado no GPS. Até o final da Barra, a distância estava batendo com as placas de quilometragem. Depois disso, os túneis, a pista inferior do Elevado do Joá e a avenida Niemeyer, fizeram com que o relógio passasse a marcar de 100 a 200m a mais. Essa distância ainda cresceria, chegando a quase 300m. Além das áreas de sombra, creio que o fato de corrermos pela pista do meio ao invés da pista colada ao Calçadão nas praias do Leblon, Ipanema, Copacabana e Botafogo faz com que a distância percorrida pelos corredores seja maior do que os 42.195 metros oficiais de uma maratona. Eu já tentei corrigir o percurso no Google Earth diversas vezes e, se não desloco o percurso para a parte interna das curvas sempre encontro uma boa diferença.

Mais um posto de Powerade. Um dos voluntários grita, como um camelô no Centro da Cidade, tentando descontrair os corredores:

- Powerade gelado. É só escolher a cor!

- Azul! - grito de volta.

A exemplo do posto anterior, tomo todo o conteúdo da garrafa, sem querer desperdiçar as calorias. O vento está novamente batendo de frente, dificultando a situação. Pego mais dois sachês distribuídos pela organização mas só tomo um, guardando o outro no short, na altura do km 36. Ao passar pelo 37, penso em voz alta: "Prepare-se para os 20 minutos mais sofridos da sua vida". Me dou conta então que, naquele ritmo, não serão 20 mas 25 minutos. Isso sem contar com o gap do GPS - 300m - 1'30" a mais a serem corridos que, acredite, fazem diferença. O sorriso foi aos poucos sendo substituido por uma careta, parecida com as que apareciam nas fotos no final da maratona do ano passado. Os quilômetros demoravam mais a passar. No 39º eu achava que já estava no 40 mas a quantidade de atletas andando me tranquiliza pois me passa a impressão de estar correndo no ritmo certo.

Em frente ao Rio Sul, um anônimo oferece Pepsi. Ele está no mesmo local no ano passado mas desta vez, peguei um copo. O problema é que é difícil pra caramba beber em um copo em movimento e eu não sabia se eu conseguiria retomar o ritmo caso parasse para bebê-lo. Tomei um gole e o joguei, quase cheio, fora. Passo em frente ao Rio Plaza, chegando na entrada do túnel do Pasmado. Alguns corredores da Meia-Maratona e da Family Run estão andando, medalhas no pescoço, na direção contrária. Procuro por alguém conhecido mas não reconheço ninguém.

No Morro da Viúva um corredor da equipe Run 4 U passa por mim.

- Ei, corredor de Brasília. Vamos comigo.

No ritmo em que ele está, isso não vai dar certo.

- Pra mim não dá. Vai nessa.

- Tá perto. É só fazer a curva - alguém grita pra mim. A euforia volta e eu começo a agitar os braços, comemorando o tempo que eu não tenho forças para verificar no relógio, mas tenho certeza que é bom.

- Vai Lo-Rã! - Escuto alguém gritar - a camiseta da equipe é reconhecível à distância. Tenho a impressão de escutar meu nome e já consigo ver a chegada.

Tapete, cronômetro parado, tip, tip - display do tempo da corrida: 3:16'48" - 1 minuto e meio a menos do que eu esperava antes de verificá-lo! Euforia, endorfina, felicidade, adrenalina, realização, dever cumprido. Os sentimentos se confundem e eu imagino estar com cara de bobo. As mãos passam do ar para a cabeça. E desta para o rosto. E deste para o ar novamente.

Vídeo com a minha chegada

Uma voluntária se ajoelha, retira o chip do meu tênis e o amarra novamente. Obrigado, eu acho que não seria capaz de me abaixar no momento! Mais adiante recebo a medalha. Estou tão feliz que chamo a atenção de uma fotógrafa que me chama e pede para eu posar para uma foto. Pego o lanche e encontro com o corredor de Brasília que me passara logo antes.

- Pô. Eu te chamei para ir comigo.

- Não deu.

- Boa corrida, cara.

Trocamos um cumprimento enquanto um repórter com uma câmera se aproxima e pede algumas palavras.

- Max! Max!

Me viro e vejo a Glória, da equipe, me chamar. A Moema e a Rai também aparecem e me dão os parabéns. Nos abraçamos e despedimos. A euforia permanece - dá-lhe endorfina! Recolho a sacola que despachara no guarda volumes e me dirijo ao Espaço do Atleta da Asics, patrocinadora da equipe. Entro na fila da massagem e ligo para o Laurent.

- Cheguei Laurent. 3:16'48"

Ligo para o meu pai para dar a notícia e receber novos parabéns. Começa a bater um frio intenso. Tiro a camisa molhada e coloco o agasalho. Tiro uma foto registrando o momento e vou ao Belmonte, tomar um chope. No caminho, encontro o Éder e o Carioca, que me goza pela euforia da chegada:

- Cada pulo, uma purpurina!

Tô no balcão do Belmonte e um corredor, ao ver minha medalha pergunta:

- Qual o seu tempo?

- 3:16 - digo-lhe cheio de orgulho.

Ele mesmo estava com uma medalha, mas a fita era verde (da Meia Maratona). Pergunta se o tempo não era suficiente para pegar um pódio na faixa etária e se lamenta por ter um monte de medalhas verdes e nenhuma laranja.

As pessoas com quem havia marcado no Belmonte não apareceram mas, ainda assim, poucas foram as vezes que um chope desceu tão redondo quanto os que lá tomei.

Resumo da ópera: 188º lugar na classificação geral, 39º na minha faixa etária.

3 comentários:

  1. Mandou muito bem Max!! E o texto também ficou ótimo!

    Parabéns!!!

    ResponderExcluir
  2. Max, meu velho! Parabéns!!! Grande corrida, grande relato.

    ResponderExcluir
  3. \o/ Hurray!
    Não sei o que é melhor, se o relato ou a corrida ou se a corrida com relato, parabéns pela conquista!!! O sabor da vitória é demais :D
    Bambi é mardade do marvado hehe
    Bota ele lá ano que vem :P

    ResponderExcluir

Tecnologia do Blogger.