Pelotão do Lago Sul
Cada vez menos venho participado dos Pelotões do Lago Sul. Agora que os joelhos já não reclamam com tanta intensidade, tenho reservado os domingos para as atividades da Equipe Lo-Rã. Geralmente corremos ou por uma das inúmeras trilhas de Mountain Bike da região ou por aquelas mapeadas pelo Laurent. Para rolar um Pelotão, é necessário um fim de semana com o rótulo "Livre" na planilha ou uma conjunção de situações. Neste fim de semana, aconteceu os astros se alinharam. O sobreaviso no trabalho não permitia que eu me afastasse muito de Brasília. A corrida em Planaltina, programação da equipe no domingo estava descartada. Também não permitiu que eu fosse com a +Evolua Multisports para a estrada de Corumbá IV, em Luziânia. Assim, me programei para atividades nas redondezas, que me permitissem estar no trabalho em pouco tempo em caso de acionamento. Trote no sábado, Pelotão no domingo. Quanto sacrifício temos que assumir por causa do trabalho :-)
O Pelotão é a sensação mais próxima que um pau de rato como eu pode ter de ser um ciclista de verdade. Como atualmente há a divisão em A e B, sendo o A pros caras que realmente pedalam e o B para aqueles que, como eu, fingem que pedalam, o pelotão acaba se tornando compacto para quem consegue sobreviver às subidas ao longo do trajeto. Não que hajam muitas. Brasília é plana, se lembra? Mas tomando como base os lugares em que já tive a miserável experiência de sobrar, há alguns pontos críticos: a Ponte JK, o CCBB e o Iate na ida, a UnB, os Fuzileiros e a entrada do Lago Sul na volta. Sobrevivendo a estes pontos, dá para almejar fazer a chegada já que, como numa corrida real, rola fuga e sprint na chegada. O interessante do Pelotão é que ele é um movimento completamente espontâneo. Não há organização, líderes, ou donos. Há apenas o compromisso que aos domingos, partindo do estacionamento do CNPQ, o Pelotão B larga às 8 e 45 minutos depois, é a vez do A. O percurso é sempre o mesmo: Lago Sul até a ponte JK, L4 Norte até a Ciclovia da Asa Norte onde se faz o retorno e se volta exatamente pelo mesmo percurso da ida. 64 km. Simples porém rápido. 40 km/h de média num dia bom.
Como de costume, fui pedalando até o ponto de largada, uniformizado de +Evolua Multisports. Ao me ver preparado para sair, +Wandréa Marcinoni comentou, ironicamente: "esse uniforme é um terno para você". Felizmente não. Terno está associado a trabalho. Bretelle está associado a diversão.
O vento forte na ida segurou o ritmo. Estava bem, me posicionando na parte de trás do pelotão até a entrada da Ponte JK. Lá é melhor ir para a frente já que a quebra é eminente. Dito e feito. Quando terminamos a subida do CCBB e entramos na L4, percebi que o pelotão havia se partido e eu estava na rabeira do primeiro grupo. Comecei a fazer força para escalar um pouco mais o pelote e minimizar a possibilidade de sobrar. Estava tranquilo, pedalando de cabeça erguida.
Na volta, na UnB a fuga começou a se formar. Eu estava muito atrás e percebi que o Éder estava fazendo força para alcançar a fuga. Pensei com meus botões: "Ferrou-se. Não vai dar para chegar lá na frente". Não tinha certeza do tamanho da fuga pois começávamos a pegar aqueles que, sobrados, haviam cortado caminho para se reconectarem ao pelotão. A fuga, porém, ficou restrita a 3 ciclistas e na descida da Ponte JK eu já estava na frente do primeiro dos 2 pelotões que se formaram na perseguição. Aí começamos a brincar de corrida. Fomos mandando ver, ainda que desorganizadamente, até que na altura do Gilberto Salomão encontramos o Gessy, remanescente da fuga que, agora, só contava com 2 membros. O sinal do Gilberto é sempre um ponto crítico e perigoso do Pelotão. São cerca de 5 km para a chegada, a adrenalina está lá em cima e ninguém quer ficar para trás no sinal vermelho. Fomos diminuindo o ritmo até que uma brecha surgiu e todos conseguiram passar em relativa segurança pelo sinal fechado. (Esses ciclistas pensam que são os donos da rua). No nosso grupo, uma pequena fuga se forma mas percebo que ela não vinga. Olho para o lado e o trem de uma segunda fuga está armado. Fico na dúvida. Éder grita para não ir. A fuga vai ganhando distância até que 2 caras resolvem ir ao seu encalço. Resolvo pegar carona e seguir na roda deles. O primeiro quebra e eu permaneço na roda do ciclista que sobrou. Agora bate a dúvida se tomei a decisão correta. Periga de eu ficar no meio do caminho, sem conseguir me conectar na fuga e ser engolido pelo pelotão. O cara joga o braço indicando que chegou a minha vez de fazer força. Fico de cara para o vento e percebo que, felizmente, a fuga começou a cozinhar. Ninguém quer ser o primeiro a tomar a iniciativa. A distância vai se reduzindo e eu começo a acreditar que vamos chegar. Nem deu para respirar. Mal chegamos e o ritmo sobe novamente. Estou marcando aquele que acho que vai para a chegada e, quando ele arranca, vou na sua roda. Só que o esforço de chegar na frente cobra seu preço e tenho que me contentar em ficar no 3º lugar desta nossa disputa que não vale prêmios mas vale a satisfação que as crianças sentem quando fazem de conta que estão correndo de verdade. Não há prêmio melhor a se almejar.
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